terça-feira, 27 de abril de 2010

***** A MALDIÇÃO DO PARAÍSO QUÍMICO


As mães sonhadoras e desavisadas acreditam, que cuidando bem dos seus filhos, dando-lhes o melhor, amando-os, superprotegendo-os dos perigos do cotidiano, tudo vai dar certo, o sucesso deles como pessoas está garantido graças aos seus esforços e sacrifícios para dar-lhes uma boa alimentação, confortável moradia, ótimo colégio e adequado lazer...
Há mães que ainda pensam, que apenas os filhos de pais separados, os deixados de lado e abandonados a própria sorte apresentam problemas. Porém, com o passar dos anos,com o crescimento dos filhos,com a mudança do mundo nos novos tempos, as mães começam a notar que não é exatamente assim que o desarranjo filial acontece.
Atualmente, as mães precisam estar bem informadas, atualizadas, envolvidas na sua vida e na vida dos filhos jovens ou na vida dos filhos adultos que ainda vivam no lar materno. Inequivocamente, as mães precisam perceber e aceitar que as dificuldades dos filhos e diferenças ocorrem, independentemente da educação oferecida no lar materno, das crenças familiares,da condição social da família, ou do desejo da mãe para que tudo de certo.
Não é simples explicar como as drogas possam a ser buscadas pelos filhos, como uma solução idealizada para os seus incontáveis desconfortos...
As mães talvez não lembrem, mas,durante o crescimento dos filhos eles aprenderam uma equação bastante simples, que servia de base para o seu bem estar e a remissão das suas dores, sempre existia um remédio, pelo menos um, que propiciava alívio imediato para qualquer mal, fosse ele físico ou emocional.
Na infância, na farmácia caseira havia uma panacéia que servia para aliviar todos os desconfortos. Ficou registrado desde pequeninos isso: desconforto mais química igual a alívio propiciado pela droga, que leva rapidamente ao bem estar. Hoje cada vez mais cedo, os filhos tentam repetir isso. Na adolescência eles buscam drogas para minimizar seus descontentamentos, seus desapontamentos, suas dificuldades com a vida. Os filhos jovens ou mesmo alguns filhos adultos, buscam no paraíso químico das drogas, o modo mais fácil de equilibrar-se, mesmo que este alívio seja por pouco tempo...e gradativamente, leve a destruição das crenças familiares, dos valores morais e da ética.
Nem sempre as mães percebem o que está acontecendo com seus filhos lá fora no mundo. De modo geral todos eles acabam conhecendo e fazendo amizade com coleguinhas usuários de drogas...e daí, para a experimentação é rápido.
A experimentação é uma característica da fase da adolescência, onde os limites são expandidos, o mundo é testado e tudo o que ele pode propiciar é tentador...afinal quem quer ficar fora do grupo e ser visto como um otário careta?
O adolescente encontra a droga, não vê nela um risco verdadeiro e aos poucos, vai se isolando em seu mundo solitário e alucinante. Sem se dar conta, ele lentamente deixa de lado todas as outras coisas que faziam parte dos seus interesses...afetos. Intolerante e indiferente ele se afasta da mãe, dos amigos que não usam a droga, da educação, da saúde, do esporte, das diversões saudáveis, do futuro.
A rapidez desse mergulhar no abismo das drogas varia de pessoa para pessoa. Para alguns filhos, o mergulhar nas drogas pode ser para sempre.
Essa história sobre jovens drogados e inutilizados é ouvida com freqüência pelas mães, mas para a maioria delas, parece estar muito longe, na TV, nas revistas na casa das outras mães...não lhes afeta diretamente. Então, a mãe que nunca percebeu...ou que não sabia, subitamente percebe, vê a triste e desalentadora realidade em que o filho viciado está mergulhado.
No começo é desesperador...chegou a sua vez de sofrer todas as dores que pode uma mãe suportar. Não é fácil encarar tal realidade, mas ela percebe... forçosamente vê que o mal fez morada na alma do seu filho, e está pronto para arrastá-lo para o inferno.
A partir desse momento dramático e desagregador dos projetos maternais em relação ao futuro do filho, a mãe tem que além de admitir a dependência química do filho, lutar incondicionalmente por ele, que se arrasta pelas trilhas dos esgotos da sociedade.
Viver com um filho drogado, é viver com o desamparo, com o descaso, com a podridão, a escravidão de uma sociedade sem rumos, sem valores positivos, egoísta, impune e muitas vezes reforçadora de tudo aquilo que a desgastada mãe lutou para evitar que o filho entrasse em contato e fosse contaminado.
A mãe sente em seu desesperado coração que tudo deve ser tentado.Conversas, afeto, missas, terapias, cultos, viagens, mudanças de casa, lágrimas, dinheiro, carro, gritos, tapas, beijos podem até ajudar, mas não são suficientes. Existe um mundo malévolo e poderoso aí fora e o filho tem que sair por ele, tem que conquistá-lo. Este mundo está doente. As mães precisam ajudar os filhos a viver nele, sem que se contaminem, fazer escolhas que não irão, com certeza retirar a podridão do mundo, mas certamente irão afastá-los de seu mundo. Os trincos, cadeados, muros, portões eletrônicos, celulares, remédios , motoristas particulares, super proteção, não os deixa imunes aos perigos e sujeiras. Os filhos anseiam por liberdade, vão para o mundo que aos poucos irão conhecer, e viver...todas as tentações são convidativas,e elas não pedem licença para dominá-los...elas entram, minam os sistemas de defesa e quando as mães dão se conta percebem que tem que lutar sozinhas...
As drogas andam soltas pelas ruas. Vão à escola, danceterias, clubes, igrejas, bares, residências. As pessoas pensam que para adquiri-las é preciso enfrentar a marginalidade, mas isso não é real. Vivemos no mundo do “DELIVERY” também em relação às drogas. Basta um telefonema e elas chegam às nossas mãos com a mesma facilidade com que pedimos uma pizza no final de semana.
A dependência química é uma doença que afeta cerca de 10 a 15% da população.
Algumas pessoas afirmam, que nem todos os indivíduos que experimentam drogas, tornam-se dependentes...contudo,qualquer pessoa que necessite consumir substâncias químicas para estar 'legal', não é 100% saudável em seu emocional...A droga é a química reveladora destes indivíduos incapacitados para o enfrentamento das vicissitudes da própria vida.Droga é causa e não conseqüência de disfunções de qualquer ordem na vida de uma pessoa.
Qual mãe não se choca com tal descoberta? Mas, após os danos causados por esta impactante revelação, é hora de arregaçar as mangas e tentar ajudar. Para tanto, é preciso avaliar o grau de envolvimento do filho com as drogas e através da ajuda psiquiátrica e psicológica definir, o tipo de tratamento necessário.
Aqui, vamos considerar, que um filho funcional, que cresceu aprendendo com sua mãe que as dificuldades só podem ser superadas através do próprio esforço, dificilmente se tornará um dependente, pois saberá fazer escolhas acertadas. Um dependente precisa ser tratado, dirigindo-se o foco do processo à sua doença. Ele tem todo o tipo de disfunção e dificuldades, mas elas fazem parte do quadro geral de sua doença. Droga é causa e não conseqüência de disfunções de qualquer ordem na vida de uma pessoa.
As mães devem buscar informações científicas e verdadeiras sobre a dependência química. Existem diferentes formas de tratamento, todas são boas mas isso não que dizer que a cura possa ser prometida.
As mães racionais e inteligentes precisam buscar compreender a dependência em si, bem como seus reflexos, na família, nas relações entre seus membros e sua relação com o mundo. A mãe que consegue se organizar com eficácia, buscar ajuda e reconhecer sua dificuldade, não transferindo ao filho dependente toda a carga, fazendo dele o “saco de lixo da família”, consegue crescer, avançar e encontrar novas formas de relacionamento com esse filho, esteja ele na lista dos curados ou reprovados.
Uma mãe racional e funcional aceita mais facilmente o ciclo da vida e percebe o crescimento e a busca necessária da independência por seus filhos. Trabalha as dificuldades mais facilmente. Consegue agir, de forma mais adequada quando as dificuldades aparecem. Os problemas são encarados como oportunidades de crescimento e de repensar as relações.
Quando a mãe não consegue ver no filho, a pessoa dependente química, existente para além da sua idealização sobre ele, ela se consome em medos e culpas, sabotando o tratamento e a si mesma.
Essa mãe se torna resistente a dar indefinida continuidade no tratamento. Ela se torna fragmentada, culpada, desorientada, trocando acusações e buscando explicações para entender o que está acontecendo, como se o entendimento fosse suficiente para resolver a situação... A vergonha impede que o problema seja colocado de modo transparente. Ter “um drogado” em casa não é motivo de orgulho para nenhuma mãe, mas a crescente aceitação da dependência como uma doença, permite que a mãe se mobilize e possa trabalhar para resgatar o filho dependente químico, reconhecendo os seus reais limites.
De modo geral, as mães desejam uma solução mágica, mais uma panacéia que expulse os problemas da sua vida. Mas, a dependência química é uma doença que tanto pode destruir o filho quanto atingir a mãe inconformada e desesperada em todas as dimensões da sua fragilizada existência.
O constante descontrole da vida do filho dependente, que passa por várias internações, pode desenvolver na mãe angustiada, uma falsa sensação de controle por parte dela, no momento em que o filho está sendo tratado em uma instituição especializada.Conseqüentemente, mecanismos de defesa são criados para dar-lhe sensação de que algo adequado está sendo feito. De fato, o problema pode não ter solução nem a longo prazo, pois não pode ser atacado diretamente, então a mãe dirige sua atenção para qualquer alternativa de tratamento, pois assim sente que está fazendo algo. Esses mecanismos precisam ser percebidos pela mãe, de tal forma que ela não se afaste dos outros familiares e, faça o melhor que possa por si mesma.
A mãe deve entender com o tempo, quais são os seus limites. Ela precisa aceitar que não pode controlar a vida do filho dependente ou ajudá-lo a encontrar o equilíbrio, se essa não for a sua escolha. A mãe deve urgentemente reagir positivamente ao constatar os seus limites. Definitivamente, para tudo existe a hora certa de parar, cabe a mãe ter essa lucidez para não viver inutilmente refém da conduta insana do filho.
Enfim, na vida para haver equilíbrio, cada coisa deve ocupar o seu respectivo lugar. Assim sendo, vida pessoal da mãe precisa continuar a existir verdadeiramente, no pleno exercício das suas funções intelectuais e criativas . Os prazeres, as outras necessidades e sentimentos da mãe devem ter seu lugar garantido na sua existência pessoal. A mãe jamais deve fazer da dependência química do filho a sua definitiva e exclusiva missão humana. A visão que antes estava centrada somente no filho dependente, precisa ser racionalmente substituída por atividades e relacionamentos voltados para si mesma.

(SME)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.