
...pois é, o tempo passou, esta é uma historinha comum, que se parece com tantas outras sobre o mesmo tema...
Para começar a primeira personagem dessa narrativa trata-se de uma mãe idosa pensando sobre a sua própria história. E,quando se trata de mãe, dizem os filhos..."só muda de nome e endereço..."
Mãe (pensando):Um dia, meus filhos contarão aos meus netos, histórinhas sobre a sua vida...e, meu coração sabe, eles serão capazes de entender, a lógica que motiva uma mãe amorosa a ser durona...
Faz tempo...faz muito tempo que eu lhes contei essa histórinha de todos nós...
...Filhos, Deus sabe o quanto os amei...amei o suficiente para lhes perguntar: aonde vão, com quem, e a que horas regressarão para casa.
Eu os amei o suficiente para insistir que juntassem o dinheiro da mesada e comprassem o seu próprio brinquedinho, mesmo que eu tivesse a possibilidade de lhes comprar um...
Eu os amei o suficiente para em certas situações, suportar ficar em silêncio deixando que descobrissem, que seu novo coleguinha não era verdadeiramente uma boa companhia...
E os amei o suficiente para lhes fazer devolver, qualquer coisa achada... ou não... por vocês na escola.
Eu os amei o suficiente para permanecer em pé por longo tempo, junto de vocês, enquanto aborrecidos e praguejando limpavam o seu próprio quarto; tarefa que eu teria realizado com boa vontade e rapidez, não fosse necessário, os educar para a vida.
Eu os amei o suficiente para lhes permitir perceber: raiva, frustração, desapontamento e lágrimas nos meus olhos, ocasionados por suas atitudes de indiferença e ingratidão.
Eu os amei o suficiente para lhes deixar assumir a responsabilidade das próprias atitudes, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para lhes dizer não, impondo as regras do dever e da responsabilidade cobradas pela escola, pela sociedade, e por mim principalmente, mesmo sabendo que vocês iriam me odiar por isso. Essas eram as mais difíceis batalhas de todas.
Filhos, o tempo passou, hoje vocês são adultos.Estou contente, venci, porque no final vocês venceram também. E, a qualquer hora, quando os seus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva uma mãe a ser durona, vocês lhes dirão quando eles perguntarem se a sua mãe tinha sido durona..."que sim, ela era bem durona, mas nos amava mais do que a si mesma".
Talvez vocês até reforcem os seus atos de disciplina contando na sua própria historinha..."o quanto mamãe sempre foi durona!"
...pois é, o tempo passou, esta é uma historinha comum, que se parece com tantas outras sobre o mesmo tema...
Para terminar, o segundo personagem desta narrativa, trata-se de um dos filhos da mãe durona. Neste tempo da histórinha familiar, o Filho pensa e conversa com os seus jovens filhos sobre a avó:
...pois é,com mamãe, não tinha muita conversa. As outras crianças comiam guloseimas no café da manhã, nós tínhamos de comer: cereais, frutas, queijo, pães, leite etc.
Os filhos dos outros na hora do almoço bebiam refrigerante e comiam batatas fritas ou o que mais gostassem, nós tínhamos de comer verduras, legumes, feijão, arroz e carne, frango, peixe etc.
E, para completar,mamãe era tão durona que obrigava os filhos a fazerem as refeições à mesa,juntos, o que era bem diferente das outras mães que deixavam os filhos comer onde bem entendessem...vendo televisão...brincando...
Na nossa casa, mamãe ditava as regras, era a matriarca e ponto! Viúva muito jovem, assumiu sózinha as responsabilidades da casa... é, mamãe precisava mesmo manter as rédeas curtas...
Estatuto da criança? Leis de trabalho infantil? Com ela as leis eram claras...os filhos devem aprender a obedecer os pais e ponto!
Diariamente, além de estudar, nós tínhamos de lavar a louça, fazer as camas, tirar a roupa do varal, varrer o quintal, esvaziar o lixo...trabalhos domésticos chatos e cansativos...
Na adolescência,mamãe não dava "colher de chá". Estava sempre de olho nos filhos e insistia em saber onde nós estávamos a qualquer hora. Parecia uma quase prisão, a gente vivia se imaginando livre daquele controle, fugindo das daquelas cobranças...desaparecendo no mundo.
Mamãe nunca desistia, apesar das nossas constantes contestações...perguntava, perguntava, até saber quem eram os colegas dos seus filhos, e o que nós fazíamos por aí...
Ela insistia que os filhos lhe dissessem a verdade...na verdade quando a gente mentia ela sabia sei lá como, que a gente não estava sendo correto com ela. Essas coisas geravam reclamações...lágrimas...a vida parecia muito chata e mamãe um "saco"...
Os adolescentes da vizinhança podiam sair à noite, mas, os filhos de mamãe, tiveram que esperar...esperar...esperar...
Mamãe era durona,e eu um tolo imaturo que só resmungava: "que droga, estou perdendo a minha adolescência"."Que saco! Eu não queria ter mãe...
O tempo passou, estudei muito,me tornei um juíz.
Mamãe foi durona, mas talvez por isso jamais eu tenha me envolvido em atos de vandalismo, violação de propriedade, drogas, "porres federais" e outras coisas...
Sou hoje um vencedor...e devo isso a esta mãe guerreira e amiga, que sempre foi corretamente,amorosa e durona comigo.
A vida não para, as oportunidades não aproveitadas nunca voltam...o que perdemos é para sempre.
Um dia mamãe nos deixou...e, só Deus sabe, a falta que ela ainda me faz!
Filhos jovens não pensam,reclamam...reclamam,não gostam de regras...deveres ou obrigações.
Aprendi a minha lição. Sim, sou um pai durão... Talvez, até bem mais durão que minha inesquecível mãe, que do seu jeito, sempre lutou para proteger os filhos, das armadilhas e maldades do mundo...
Aliás, observando hoje, a violência e as drogas que cruelmente devoram os jovens desta geração,penso que no mundo: Não há suficientes mães duronas e sábias.
Enfim, mães de verdade, duronas e muito especiais, são pérolas divinas que nem sempre os filhos reconhecem!
(SME)
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